A moda sustentável vai além de uma tendência: é uma resposta urgente aos impactos ambientais da indústria têxtil. Entenda o que torna uma marca realmente consciente, como identificar greenwashing e descubra soluções acessíveis para consumir com propósito.
Você sabia que a indústria têxtil é o segundo mercado mais contaminante do mundo? É somente superada pelo petróleo. E vendo como o aquecimento global aumenta, não podemos deixar de olhar o desperdício de roupa como um dos causadores. A missão da moda sustentável é mitigar esse impacto para que as próximas gerações possam desfrutar desse mundo.
A tendência de sustentabilidade tem ganhado destaque nos últimos anos à medida que consumidores e empresas reconhecem a necessidade de reduzir o impacto ambiental da indústria fashion. Porém, nem tudo o que leva uma tag “Verde”, “Green” ou “Eco” é realmente amigável com o ambiente.
Então, o que caracteriza uma peça de roupa como sustentável? Como identificar marcas realmente comprometidas com essa causa? Entenda tudo o que circunda esse universo neste artigo
O que é a moda sustentável?
Moda sustentável é um conceito que engloba a produção, o consumo e o descarte de roupas ambientalmente responsáveis e socialmente justas. Isso significa optar por materiais de baixo impacto, processos menos poluentes e condições de trabalho dignas para os envolvidos na cadeia produtiva.
Como explica o SEBRAE, o conceito de sustentabilidade aplicado à moda propõe produção mais humanizada, sem a exploração da mão de obra e com remuneração mais justa. Além de produzir peças onde o design e a funcionalidade favorecem o uso duradouro.
No entanto, apesar das promessas de sustentabilidade, a indústria da moda ainda é uma das mais poluentes.
Isso acontece pelo consumo em excesso a nível global. Por exemplo, o Fórum Econômico Mundial fez uma pesquisa onde comprovou como as pessoas estão comprando mais e usando menos, produzindo um efeito dominó onde o consumidor exige mais e as empresas têm que se adaptar às mudanças.
Como saber se um produto é realmente sustentável?
Nem tudo que se vende como “Eco-friendly” é, de fato, sustentável. Por isso, existe um termo chamado de “Greenwashing” que consiste em falar que uma marca é sustentável quando, na realidade, não é.
Para identificar produtos genuinamente comprometidos com a sustentabilidade, é essencial verificar:
Matérias-primas de baixo impacto ou recicláveis:
Tecidos orgânicos, como algodão certificado, linho e bambu, que utilizam menos água e pesticidas, são considerados de baixo impacto e tendem a ser considerados como “biodegradáveis”.
Uma estratégia é identificar na etiqueta do produto os materiais que usam para confeccionar a roupa, verifique se o site fornece informações úteis sobre suas confecções. Se o material é mais de 60% poliéster, ou são pouco transparentes ao divulgar a matéria-prima, então não são tão “amigáveis” assim. Desconfie!
Também é interessante procurar por aquelas marcas que fazem peças feitas a partir de materiais reaproveitados, como poliéster reciclado ou upcycling de roupas antigas.
Certificações:
Pesquise se a marca de seu interesse possui selos verdes ou selos de sustentabilidade. No Brasil temos como exemplo o FSC (Conselho de Manejo Florestal) para produtos de madeira ou alimentos. Para roupas e produtos de beleza podemos mencionar o Certificado Produto Vegano que avalia que a matéria-prima não tenha origem animal nem seja testada em animais.
A nível internacional, temos a B Corp., um movimento que avalia os padrões ESG de várias empresas na gringa. Também temos a Green Dot que nasceu na Alemanha que visa apoiar e aprimorar a cadeia de reciclagem e compensação ambiental de embalagens.
Umas das minhas lojas favoritas de calçados é a “Toms” que tem o selo de B Corp. e possui uma estratégia de impacto social muito interessante.
Produção Ética:
Lamentavelmente, segundo o Global Slavery Index, de 2018, disponibilizado pela fundação Walk Free, a moda é o segundo setor que mais explora pessoas.
Por isso é interessante verificar no site da loja se ela promove algum projeto social, se faz algum tipo de reciclagem dos seus produtos ou qualquer outra prática socioambiental. Já temos exemplos de grandes marcas e eventos que mostram algum comprometimento com isto.
A Copenhagen Fashion Week estabeleceu nos seus padrões que as marcas devem cumprir com vários requisitos de equidade, transparência e sustentabilidade nas suas empresas, entre essas leis, destaca uma que proíbe o uso de peles de animais.
Qual é a importância da moda sustentável?
A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, contribuindo significativamente para a emissão de gases de efeito estufa, poluição de água e descarte excessivo de resíduos têxteis. A moda sustentável busca minimizar esses impactos, promovendo um consumo mais consciente e reduzindo danos ambientais.
Uma compra consciente não é somente um capricho, existem muitas provas de que há um mercado interessado em reduzir seu impacto negativo.
Um estudo da FirstInsight mostra que 62% dos consumidores da Geração Z preferem comprar de marcas sustentáveis, e 73% estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis.
Conforme a Federação Nacional do Varejo (National Retail Federation), entre metade e dois terços dos consumidores, no geral, pagariam mais por produtos sustentáveis.
No Brasil, as pesquisas também indicam uma preferência de quase 90% de consumidores que preferem marcas sustentáveis.
Desafios da moda sustentável
Embora o debate sobre moda sustentável esteja cada vez mais presente, a indústria ainda enfrenta entraves significativos para uma transformação real e duradoura:
1. Cultura da fast fashion:
Desde o início dos anos 2000, com o crescimento de redes como Zara e H&M, o modelo fast fashion se consolidou ao oferecer tendências a preços baixos e em tempo recorde.
Isso mudou drasticamente o comportamento do consumidor, que passou a adquirir roupas com maior frequência e menor tempo de uso. Esse ciclo de consumo acelerado gera um enorme volume de resíduos e impulsiona condições precárias de trabalho para manter os custos baixos.
2. Falta de infraestrutura para reciclagem têxtil:
Apesar dos avanços em tecnologias de reciclagem, menos de 1% dos materiais usados na produção de roupas são reciclados em novas peças, segundo a Fundação Ellen MacArthur.
A complexidade das fibras mistas, a ausência de coleta seletiva eficiente e o custo elevado de processos industriais de reaproveitamento dificultam a reciclagem em larga escala.
3. Greenwashing e desinformação:
Com a popularização da pauta ambiental, muitas marcas passaram a adotar estratégias de marketing “verde” sem implementar mudanças reais. Esse fenômeno, conhecido como greenwashing, confunde o consumidor e enfraquece o movimento sustentável.
Em 2021, a Changing Markets Foundation analisou diversas marcas globais e concluiu que 60% de suas alegações ecológicas eram enganosas ou não verificáveis.
4. Altos custos da produção sustentável:
A moda ética exige investimentos maiores em materiais certificados, processos menos poluentes e remuneração justa. Isso torna os produtos mais caros e, muitas vezes, inacessíveis para o público geral.
Além disso, pequenas marcas encontram barreiras para competir com o baixo custo das gigantes do fast fashion, dificultando sua sobrevivência no mercado.
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Soluções e alternativas sustentáveis
Apesar dos desafios, há caminhos viáveis e cada vez mais acessíveis para um consumo de moda mais consciente e responsável:
1. Adote um armário cápsula:
Esse conceito propõe a construção de um guarda-roupa funcional com poucas peças versáteis e de qualidade, que combinem entre si e possam ser usadas repetidamente em diferentes ocasiões.
Segundo um estudo da Waste and Resources Action Programme (WRAP), prolongar a vida útil de uma peça de roupa por apenas nove meses pode reduzir sua pegada de carbono, água e resíduos em até 30%.
2. Compre de brechós ou troque roupas:
A moda circular ganha força com a popularização de brechós, feiras de troca e aplicativos de revenda. Além de dar uma nova vida às roupas, essa prática reduz o descarte têxtil e democratiza o acesso a peças de qualidade.
Iniciativas como o Enjoei, no Brasil, e Depop, internacionalmente, têm impulsionado esse movimento entre jovens consumidores.
3. Prefira marcas locais e produções artesanais:
Ao escolher marcas que produzem localmente, você reduz a pegada de carbono associada ao transporte e fortalece a economia da sua região. Além disso, é mais fácil fiscalizar e conhecer os valores reais da marca.
4. Alugue roupas para ocasiões especiais:
Plataformas como Rent the Runway, nos EUA, e ClosetBoBags, no Brasil, popularizaram o aluguel de peças de luxo ou para eventos. Essa solução reduz a compra impulsiva de peças que seriam usadas apenas uma vez.
Exemplos de marcas sustentáveis no Brasil e no mundo
Diversas marcas vêm se destacando por suas ações reais em prol de uma moda mais ética, justa e responsável:
✦ Mnisis (Brasil)
Fundada em São Paulo, a marca une estética vibrante com responsabilidade ambiental. As coleções utilizam tecidos reaproveitados e métodos artesanais de produção. Em parceria com a marca NOI, a Mnisis prioriza fornecedores locais, valoriza a mão de obra artesanal e mantém um compromisso com a transparência e o impacto social positivo.
✦ Toms (EUA)
Conhecida por seu modelo “One for One”, onde um par de sapatos era doado a cada par vendido, a Toms evoluiu para uma abordagem mais ampla de impacto social.
Certificada como B Corp., a empresa investe um terço dos lucros em causas como acesso à saúde mental, oportunidades para comunidades marginalizadas e iniciativas ambientais.
✦ Mango (Espanha)
A gigante do varejo iniciou um processo robusto de transformação sustentável. Hoje, cerca de 79% de suas peças já contam com atributos eco-friendly.
A marca aposta em algodão orgânico, poliéster reciclado e estamparia digital. A meta é ousada: até 2025, todas as suas coleções deverão ser compostas por tecidos sustentáveis e processos de baixo impacto ambiental.
E você? Deseja se vestir conscientemente?
A moda sustentável é muito mais do que uma tendência é uma urgência. Para transformar essa indústria, é preciso repensar hábitos, exigir transparência e apoiar marcas comprometidas com o futuro do planeta. Cada escolha conta.
E você? Que tipo de moda quer vestir? Comece hoje mesmo a transformar seu armário em um reflexo dos seus valores.
Aposte em consumo consciente, apoie marcas responsáveis e compartilhe essa ideia com quem também quer vestir mudança!